terça-feira, junho 06, 2006

Caladinho (para Rádio Pernes 5Jun06)

Os avós são um poço de experiência, por isso sempre fiz questão de ouvir com muita atenção aquilo que as minhas avós me diziam.
Uma delas fazia questão de me repetir duas coisas que hoje vêm mesmo a propósito do assunto que vos trago. A primeira é que “o respeito vem de cima para baixo” e a segunda é que “quem quer ser respeitado tem que se dar ao respeito”.
No passado dia 26 de Maio teve lugar na Assembleia da República o debate mensal. Regra geral, este espectáculo, perdão debate, tem transmissão directa na :2.
Há poucos programas da nossa televisão que eu gosto mesmo de ver, mas as transmissões dos debates da assembleia da república estão nesse grupo.
Se nunca tiveram oportunidade de assistir, aconselho-vos vivamente a experimentarem, porque há poucos momentos televisivos mais engraçados e divertidos do que aquele.
Se não estou em erro, nunca consegui ver um destes debates sem dar umas boas gargalhadas.
Mas no dia 26 foi de mais, o tema em questão era relacionado com as farmácias.
O CDS/PP interpelava o Governo, na pessoa do primeiro ministro José Sócrates.
O deputado da bancada popular Nuno Melo parecia que tinha assaltado uma farmácia, ou então que tinha sido acometido por várias doenças súbitas, tal era a quantidade de medicamentos que ele levava para tentar demonstrar a evolução dos preços destes.
Confesso que, tendo em atenção quer tudo aumentou, estranho seria se o mesmo não se tivesse passado com os medicamentos.
Voltando ao debate, o deputado Nuno Melo tinha colocado umas questões ao primeiro-ministro e na altura em que Sócrates estava a responder, o deputado conversava com o seu colega de bancada.
O chefe do Governo achou que isto era falta de educação, e neste aspecto até tenho que lhe dar uma certa razão. Quando alguém nos responde, devemos ao menos olhar para ela. No entanto, os parâmetros da cortesia parlamentar são algo diferentes e é comum que estas situações aconteçam.
No entanto, o primeiro ministro quis mostrar que estava ao nível desta falta de etiqueta e disse “oh senhor deputado, esteja caladinho e ouça”, mostrando o que é a verdadeira brejeirice, falta de educação e de boas maneiras.
Claro que, deste momento em diante, as farmácias e o preço dos medicamentos perderam a importância toda para se passar a discutir qual deles tinha cometido a falta maior.
Sócrates ainda tentou justificar-se dizendo que tinha estado calado enquanto o deputado o interpelou e que não era nada de mais pedir silêncio.
Eu acho que os fins não justificam os meios e que, de hoje em diante, o primeiro ministro deixou de poder exigir respeito, não obstante os sorrisos forçados que distribui a eito