segunda-feira, agosto 30, 2004

O Poema, de Fernando Pessoa

Dentro de mim dorme um poema
Capaz de exprimir minha alma toda.
Sinto-o vago como som ou vento
Embora já esculpido inteiro para sempre.

Sem estrofes, versos ou palavras.
Nem sonhar ainda é.
Mera emoção dele, esfumado apenas
Bruma feliz em volta do pensar.

Dia e noite em meu mistério
Sonho-o, leio-o, de novo o soletro,
E sempre a fímbria das palavras me aborda
Como adejando sua vaga integridade.

Sei que nunca será escrito.
Nem sei, não sei sequer que é.
Mas a sonhá-lo sinto-me feliz,
E alegria, mesmo falsa, é alegria.

No outro dia peguei num livro para começar a ler, de lá de dentro caíu uma folha. Nessa folha estava este poema lindo. Agradeço à minha irmã por se ter esquecido lá dela, pois isso permitiu que eu me cruzasse com O Poema. É engraçado quando lemos as palavras de outrém e encontramos nelas um espelho daquilo que pensamos.

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